A Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) inaugurou no campus de Barão Geraldo, em Campinas, nesta quinta-feira (21/11), a CampusGrid, uma microrrede que combina sistema fotovoltaico de 565 kWp e sistema de baterias de grande capacidade (BESS) de 1 MW e autonomia de até 2 horas. Caso o período sem energia se prolongue, o gerador a gás natural entra em ação, assegurando 250 kVa até que a produção normalize. Além disso, a integração tecnológica permite o monitoramento em tempo real, criando uma base sólida para identificar novas oportunidades de desenvolvimento.
Com um investimento de R$ 45,3 milhões, o projeto, desenvolvido em parceria com a CPFL Energia, é parte do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), reunindo esforços da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI), do China Electric Power Research Institute (CEPRI) e da Hexing.
“A microrrede CampusGrid, a maior em âmbito universitário na América Latina e no Caribe, cobre uma área de 144 mil m² e reúne elementos inovadores como geração de energia renovável e não renovável, armazenamento em baterias, medição inteligente e um centro de controle autônomo que permite sua operação desconectada da rede principal. Essa capacidade de operar de forma independente é especialmente crucial em casos de blackout, aumentando a resiliência frente a eventos climáticos extremos”, explica o professor da Unicamp, Luiz Carlos Silva.
Esse modelo não apenas eleva a sustentabilidade e a eficiência no uso de energia, mas também promove benefícios econômicos diretos. Somente com a geração solar fotovoltaica, a Unicamp economizará cerca de R$ 450 mil por ano em sua conta de energia elétrica.
“Mais que uma solução local, o CampusGrid é um laboratório vivo que permite validar tecnologias e ampliar horizontes para aplicações futuras. De comunidades isoladas na Amazônia até setores como mineração e agricultura irrigada, o potencial de replicação é vasto e estratégico”, garante o professor. Além disso, a microrrede atende instalações como o Ginásio Multidisciplinar, a Faculdade de Educação Física, e as bibliotecas Central César Lattes e de Obras Raras.
Desafios e avanços no combate à intermitência na transição energética
O CEO do grupo CPFL Energia, Gustavo Estrella, destaca que o maior desafio do setor elétrico atualmente está na intermitência, um obstáculo que precisa ser superado para integrar de forma sustentável a crescente geração de energia renovável.
“É um grande orgulho ver que conseguimos desenvolver uma tecnologia economicamente viável para gerar energia limpa a um custo acessível, mas enfrentamos o desafio da operação de rede, que é o tema da intermitência. O mundo está trabalhando nisso para descobrir como manter o crescimento da geração renovável de maneira sustentável, casado ao tema da segurança energética”, afirmou Estrella.
O executivo avalia que o aumento da participação de fontes intermitentes, como solar e eólica, exige iniciativas que possam conciliar sustentabilidade e segurança energética. Por isso, iniciativas como a CampusGrid são fundamentais para a inserção de geração renovável na matriz energética nacional.
“A nossa missão é que, em algum momento, tenhamos cidades inteiras e países rodando um sistema parecido com este que estamos inaugurando aqui, de maneira sustentável. Temos uma expectativa muito grande sobre como poderemos contribuir com essa jornada do mundo em busca da segurança energética”, diz Estrella.
À pv magazine, o diretor de Estratégia e Inovação da CPFL, Bruno Monte, disse que a tecnologia pode ser uma aliada da integração de geração distribuída à rede. “Esse projeto que a gente inaugura hoje é o maior piloto desse porte. É algo novo, mas que tem sim o potencial de ajudar, nos próximos anos, tanto o Brasil, quanto todos os países, a fazer essa integração de geração distribuída de uma forma mais aderente tanto para a operação da rede quanto para entrega de energia para os clientes. Então sem dúvida uma tecnologia que deve ajudar nisso no médio prazo”, disse.
Cooperação internacional
A conclusão do projeto de microrrede da Unicamp representa um avanço tecnológico e uma colaboração estratégica para enfrentar os desafios climáticos globais alcançado pela cooperação entre Brasil e China no setor energético, avalia o presidente do Conselho da State Grid, Chen Daobiao.
“O desenvolvimento de energias renováveis distribuídas e a promoção da transição verde de baixo carbono na economia e na sociedade se tornarão um consenso global no enfrentamento das mudanças climáticas. A StateGrid dá grande importância à pesquisa e ao desenvolvimento tecnológico, à formulação de padrões e à implementação de projetos de demonstração no campo das MicroGrids. Isso resultou em uma série de inovações tecnológicas com propriedade intelectual independente e liderança internacional, além de experiência prática consolidada”, disse Daobiao.
O diretor de vendas da Hexing, Cao Chunshan, ressaltou a colaboração internacional e inovação do projeto. “Desde as primeiras discussões, passando pela definição do plano técnico e a implementação prática no local, esse projeto não apenas reflete os esforços conjuntos de todas as partes envolvidas, mas também marca um avanço significativo da Hexing no campo da inovação em tecnologias, microrredes e energias renováveis”, disse. A Hexing atualmente possui três fábricas no Brasil: uma no Ceará, voltada para medidores elétricos e de água, e duas em Manaus, focadas em tecnologias de armazenamento de energia e estações de recarga.
Sobre o projeto CampusGrid, Chunshan destacou sua complexidade técnica e o impacto esperado no setor. “O projeto CampusGrid apresenta um alto nível de complexidade técnica, integração robusta e abrangência tecnológica. Ele demonstra a excelência das microrredes de média tensão e aplicações em campus. É essencial promover a padronização das tecnologias, fomentar a informação e garantir a implementação bem-sucedida de projetos na prática. Este projeto é um exemplo de potencial transformador para o setor, contribuindo para redirecionar o mercado e reforçar a transição energética no Brasil e na América Latina”, conclui Chunshan.
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